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5.11.13

Hoje estou que não me aturam. E ontem já estava assim. E amanhã não sei.

A minha vida está naquele impasse merdoso: “E agora vou para onde?”

Na quinta-feira recebo um diploma. Mais um. Não que eu seja uma suprassumo diplomada. Aliás, a bem da verdade, os meus diplomas são uma coisa fascinante que eu tenho na vida mas que não me têm levado muito longe. E eu não tenho sabido o que fazer com eles.

Ora ontem estava eu no talho a aguardar a minha vez, pacientemente, e a senhora a ser atendida dizia perentória. “Veja lá isso, tire-me as orelhas ao coelho, não quero levar nada disso…”

- Ó minha senhora quais orelhas?
- Opá esses buracos… tire-me isso tudo!
- Os ouvidos?

Eu ria. O homem do talho esfrangalhava a cabeça do coelho. A mulher garantia que não levava para casa canais auditivos do coelho.

Hoje no carro contei este episódio ao Gil e conclui. O mais interessante do meu dia tinha sido a carnificina no talho. A cabeça do coelho trás, trás, trás, o homem do talho com o cutelo em riste e a senhora a debitar teoria sobre buracos e orelhas.

Preciso de um par de chinelos e de um pijama. Hoje ainda tenho que ir a casa estender camisas. Conto cozinhar almondegas para o jantar. Com massa. Daquela que parece rabos de porcos. Os dias passam.

Estou outra vez no talho a rir-me. A rir-me. Que interessante é a minha vida. Se calhar devia ver televisão. Sempre me ria de alguma coisa com sentido ou sem sentido nenhum. As orelhas do pobre do coelho. E eu para ali a rir. “Olhe dê-me aí uma caixa de almôndegas sem orelhas”!

Um amigo da loja insiste em contar-me todas as virtudes e proezas dos seus filhos e da sua mulher, eu ali fico a ouvir, a ouvir, a ouvir, perco-me nos meus pensamentos de estendais e panelas e esfregonas…

- Viu ontem a minha filha na TVI? E anteontem na RTP?

Eu nem sei quem é a filha desta criatura que olha para mim espantada quando eu aceno que não, não vi, aliás nem a filha dele nem ninguém. Eu pouco vejo televisão. No máximo enlouqueço o Gil com o meu zapping frenético e concluo que não dá nada de jeito… OPÁ A QUE HORAS DÁ “OS PORTUGUESES PELO MUNDO”? Segui tudo e agora não sei quando dá e já não temos aquilo a gravar… aquilo é o MEO! Oh MEO Deus!

E eu no talho. E eu ao pé do fogão. E eu a estender roupa. Viu a minha filha? A brilhante e linda, a minha filha? E as orelhas do coelho! Tire-me isso tudo! Zapping, zapping, zapping e nada de jeito. Nunca nada de jeito.

Ai serei só eu com esta neura outunal “lá se foi o verão e agora vem o frio e mais um ano de trabalho que não motiva ninguém e pardais pardais pardais”? Serei? E o que faço eu com outro diploma? Zapping?

Ai gente… que neuuuuuuuuuuuuuuuuuura pá!

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